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A tão sonhada satisfação com a imagem corporal e autoconceito no tratamento da obesidade

Resumo

O presente artigo tem como objetivo elucidar sobre a atividade multiprofissional do psicólogo com pacientes em quadro de obesidade ou sobrepeso com iminência de realizar tratamentos cirúrgicos de gastroplastia (cirurgia bariátrica) e o método não cirúrgico do implante de balão intragastrico (BIG). Nesta composição teoria a explanação sobre as condições psíquicas e da auto-imagem prejudica nas relações sociais será explanada como também o trabalho da equipe multiprofissional com o enfoque na qualidade de vida do paciente no período pré e pós tratamento para emagrecimento.

Palavra- Chave: Obesidade, Equipe multiprofissional, bariátrica, balão intragástrico, psicologia

Introdução

A palavra obesidade tem sua origem no Latim, obesitas, sendo definida por Ferreira (1996) como a “deposição excessiva de gordura no organismo, elevando a corpulência do indivíduo”.

A obesidade é uma das maiores causas de morte evitável e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (World Health Organization, 2015), o sobrepeso e a obesidade são a quinta causa de óbitos no mundo.

De acordo com levantamento do Ministério da Saúde (2013) do governo brasileiro, a porcentagem de pessoas com excesso de peso aumentou expressivamente nos últimos seis anos em que 70 milhões de brasileiros, ou seja, 40% da população do país já presentam excesso de peso. Desta forma a Organização Pan- americana em Saúde (OPAS) considera a obesidade como um problema de saúde pública.

A obesidade está relacionada a efeitos deletérios a saúde do indivíduo, tanto física como psicologicamente, e a sua etiologia é assunto extremamente complexo e muito discutido por possuir vários fatores: constitucionais, ambientais (como falta de atividade física e hábitos alimentares inadequados), culturais, sociais, familiares, psicológicos e emocionais considerado multifatorial ou multicausal.

No ponto de vista multifatorial e multicausal os fatores que incidem no aumento do peso corporal estão as questões psicológicas e psicossomáticas imbuídas em um comer compulsivo como um desajuste emocional com determinante das causas psicológicas e emocionais subjacentes de comportamentos aprendidos e reforçados por aspectos psicossomáticos.

Assim a ciência da Psicologia adentra o espaço multiprofissional do tratamento e acompanhamento dos casos de obesidade e sobrepeso com objetivo de identificar quais estímulos fora a fome, levam a pessoa a comer indevidamente e se existem variáveis possíveis como a ansiedade, depressão, stress, aproximação família matricial, problemas afetivos, sociais entre outros que causem a constância do sobrepeso.

O tratamento da obesidade vem se constituindo em um desafio para as diversas áreas que tratam da saúde, em virtude do constante fracasso em se alcançar êxito duradouro (Tauber, 1998). Segundo Greenway e Smith (2000), as pesquisas voltadas para os tratamentos têm se 2   ocupado em alcançar a perda de peso, com menor ênfase no estudo dos determinantes responsáveis pelas sucessivas recaídas e no aumento gradual do peso.

Dentro do enfoque multiprofissional a busca da qualidade de vida do indivíduo é o foco primordial da equipe. O psicodiagnóstico nos quadros pre- operatórios da gastroplastia e ou método não cirúrgico do implante do balão intragastrico é fundamental para o procedimento ser bem sucedida já que o indivíduo necessita está em condições psíquica e de organização cognitiva aptos para o prosseguimento dos aparatos clínicos.

Desta forma, a atual ênfase na abordagem psicossomática na área da saúde e a inserção de psicólogos em equipes multidisciplinares de intervenção, assim como em centros de saúde e hospitais gerais, ressaltam a importância e valorização de um melhor conhecimento dos componentes psicológicos na instalação e desenvolvimento da patologia em questão.

O ponto de vista psicológico

Indubitavelmente qualquer psicólogo que já tenha atuado no campo das cirurgias, e em especial, na cirurgia bariátrica, aceitará que nosso paciente não é um “cliente” para tratamento psicoterápico, e não vem com demanda para análise, como nossos colegas psicanalistas diriam.

Fairburn, Cooper, Doll, Norman e O’Connor (2000) defendem que de modo inverso, o paciente chega como quem vem retirar um mal, ou como quem quer reformar uma roupa que não lhe cai bem. Quer dali sair sem aquele defeito, ou mazela, sem maiores questões ou reflexões sobre causas ou efeitos das reformas realizadas.

Essa característica tão particular de indivíduo exigiu do psicólogo que trabalho com o sobrepeso e obesidade, incluir o estudo da fisiologia, da psicopatologia, da genética, dos modelos relacionais de casal e familiares e também do trabalho em equipes multidisciplinares.

Ao receber o paciente deparamo-nos com indivíduos sobrepujados por múltiplas tentativas de dietas que faliram e estão perdidos em suas próprias amarguras. A obesidade, a compulsão a comer, a depressão, as psicopatologias e toda a semiologia que subjaz à morbidez de seu estado, bem como aos maus resultados de suas tentativas improfícuas de solucionar seu problema, têm de ser consideradas e estudadas pelo profissional da Psicologia.

Esse cabedal teórico acima relacionado dará ao psicólogo condições de exercer seu primeiro papel fundamental: o acolhimento. Tomado desse primeiro instrumento ele partirá para sua estratégia básica de trabalho que é a anamnese, palavra advinda do grego, que significa recordação. É através da recordação, da repetição da própria história, que nosso paciente perceberá os lapsos e tropeços que realizou, não
apenas em suas dietas, mas em sua própria vida. O profissional irá, com esse processo de acolhida, permitir a catarse, pois ali, na sala do psicólogo, não há julgamento moral, censura social ou aconselhamento do tipo fraterno, que implica em expectativas. O que se requer do paciente é um comprometer-se consigo próprio, com sua saúde, com sua história e com o sucesso de sua própria saúde, bem como com o resultado cirúrgico favorável.

O paciente em  gastroplastia e balão necessitam de capacidade psíquica e o bem-estar com ausência de quadros psicóticos ou demenciais graves ou moderados. O Psicólogo tem, portanto, na função bariátrica, um papel com muitas atribuições. Ele aplica avaliação psicológica, informa, ouve, espelha, deixa acontecer, acolhe, comemora e acima de tudo sofre com seu paciente, para que ele encontre sua própria saúde.

Cambaleamos na questão do tempo, pois nosso paciente vive em estado acelerado, como se não suportasse ser obeso mais nem um dia, mesmo tendo sido “a vida toda” de acordo com seu relato. E também nossos serviços são acelerados, porque vivemos em mundos competitivos e hipertímicos. Aqui o psicólogo se defronta com os diferentes ritmos de práticas de cada 3 profissional, do fisioterapeuta ao nutricionista, do gastroenterologista ao anestesista, cada um com seu tempo de atuação e trabalho mesmo centrados em um único pensamento do cuidar.

Assim, quando se fala em preparar o paciente para a cirurgia bariátrica e implante do balão, pode-se usar a metáfora da gestação e do parto, pois nenhum parto e nenhuma gestação é referência para outro, e não há preparo para parir. A experiência se constitui como única. O que cabe ao profissional da psicologia é levantar dados durante a anamnese, resgatar um bom histórico familiar genético e emocional, de doenças psiquiátricas e vivências traumáticas; verificar na vida do próprio indivíduo a presença de doenças do campo afetivo, averiguar tendências genéticas para transtornos do humor e trabalhar dentro de uma linha informativa e preventiva. Devemos alertar nosso paciente e a equipe sobre a condição em que se encontra o dono do Sistema Digestório e recordar que há um outro sistema complexo ligado a ele, a tal da integridade cognitiva global pertencente ao Sistema Nervoso.

O psicólogo tem foco preventivo e educativo na gastroplastia e no implante de balão, bem como de acompanhamento dos processos individuais, isto é, de como cada um vive sua experiência de emagrecimento, que se dá de forma veloz e muitas vezes surpreendente. Junto com o novo corpo, as relações familiares e sociais se transformam, porque a relação do indivíduo consigo próprio também muda. É difícil imaginar que ao emagrecer algo possa mudar para pior, mas novos fatores de stress surgem e o psicólogo necessita está lá seguindo esta caminhada com o seu paciente.

É comum encontrar em pacientes em sobrepeso o constructo da autoimagem depreciativa com consequentes prejuízos nas relações sociais. Sabe-se que os indivíduos obesos, com frequência, são discriminados em contextos educacionais, profissionais e sociais, o que gera ansiedade, raiva, vergonha e dúvidas em relação a si próprio fazendo-o acreditar que é diferente e inferior às outras pessoas.

Quando possível, está junto aos familiares conscientizando de que o tratamento de emagrecimento não irá reprogramar a genética do operado, mas no máximo tentar enganá-la, produzindo um magro artificialmente, e que isso deve ser tratado pela vertente do amor do respeito e por último porém não menos importante o ouvir o seu familiar que está em tratamento e que conhece neste momento seus limites nutricionais e os desejos mascarados por este.

Compreensão, por parte do paciente e familiares, dos riscos e mudanças de hábitos inerentes a um tratamento de grande porte sobre o tubo digestivo e da necessidade de acompanhamento pré e pós- tratamento com a equipe multidisciplinar, a longo prazo devem ser clarificados.

Nesta caminhada falhas nutricionais no organismo repercutirão em problemas neurológicos e irão mimetizar quadros psiquiátricos sérios. Um cérebro mal nutrido jamais funcionará bem, e por isso não produzirá um indivíduo feliz.

Assim e possível concluir que o tratamento do sobrepeso e obesidade necessita ser multiprofissional na busca do indivíduo fazer as pazes com a balança, e para isso é fundamental estar em paz consigo mesmo. O tratamento adequado não envolve somente a redução de peso, trata-se de uma mudança de comportamento que deve ocorrer de dentro para fora. Emagrecer é muito mais que fazer dietas, praticar exercícios e fazer uso de medicamentos. Consiste na firme disposição de modificar o estilo de vida.

Uma educação gradual envolve mudança dos hábitos alimentares, estrutura emocional, manutenção de um peso adequado, e não simplesmente reduzir as calorias por determinado tempo. O tratamento psicológico possibilita que o indivíduo se reestruture emocionalmente e aprenda a desenvolver recursos para lidar com suas questões, tornando-o mais reflexivo diante das dificuldades e na busca por soluções.

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Segal, A. (2004). Obesidade não tem cura mas tem tratamento.
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Publicado por: Cristiane Dactes Gonçalves Costa – PSICÓLOGA

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